OPINIÃO

Bergmann Morais Ribeiro

A virologia tem se destacado entre as áreas de conhecimento que mais crescem no Brasil nas últimas décadas, acompanhando o aumento e adensamento da população e a demanda por saúde e alimento de qualidade. Em virologia humana, o Brasil se destaca na pesquisa de doenças virais importantes, com grupos de excelência na pesquisa de HIV, dengue, febres hemorrágicas, hepatites virais e outras doenças emergentes. A consolidação do Brasil como líder na produção e exportação de carne bovina, suína e de aves resultou em aumento das exigências sanitárias restritivas ao comércio internacional de animais e produtos que, consequentemente, desencadeou expressivo avanço no estudo da virologia animal. Na área vegetal, a ciência contribui sobremaneira para a redução dos sérios prejuízos causados pela incidência de viroses nas culturas, melhorando a sanidade e a qualidade dos alimentos.

 

Parte do notável avanço na área de virologia no Brasil nas últimas décadas se deve a iniciativas individuais ou de grupos de pesquisadores, geralmente ligados a universidades ou institutos de pesquisa. Diversos grupos nacionais apresentam excelência e são reconhecidos nacional e internacionalmente pela qualidade e pelo impacto de suas investigações científicas. Entretanto, todo o avanço não foi suficiente para evitar, por exemplo, a atual epidemia de dengue. Entre as diferentes causas para o cenário preocupante, vale destacar a falta de ação das autoridades competentes e o despreparo dos profissionais de saúde. No país, salvo poucas exceções, o tema não tem recebido a devida atenção das instituições de ensino. Apesar de a pesquisa brasileira em virologia avançar de maneira expressiva nas últimas décadas, o mesmo não se pode dizer em relação ao ensino e ao financiamento para estudos na área.

 

Vivemos as consequências desse fato no dia a dia, quando, por exemplo, recebemos diagnóstico de uma doença qualquer como sendo uma virose. São conhecidas mais de 2.600 espécies de vírus, e a simplificação de um quadro clínico caracteriza omissão inaceitável. Com a proximidade do inverno, não apenas a dengue ameaça a população, mas também doenças respiratórias como a gripe (já que tudo é genericamente diagnosticado como gripe). Além disso, diversos outros vírus infectam os humanos e não são sequer diagnosticados. A falta de conhecimento para diagnose e controle de importantes doenças virais humanas pode ser igualmente verificada na área de sanidade animal e vegetal. Muito provavelmente, se as enfermidades forem negligenciadas, a posição de liderança na exportação de carne e grãos pode ser ameaçada.

 

A Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) preocupa-se com a situação. Em nome da diretoria, insisto que o caminho para promover melhoria na saúde humana, animal, vegetal e proteção ambiental é investir na formação de pessoal especializado e ouvir os profissionais da área para que se manifestem sobre os problemas relacionados à virologia. Tornar o ensino de virologia obrigatório nas universidades e elevar recursos destinados a pesquisas na área é essencial para incentivar o avanço no conhecimento e a produção de tecnologias e práticas de controle das viroses.

 

Bergmann Morais Ribeiro

Diretor de Pós-graduação

 

Publicado originalmente no jornal Correio Braziliense em 7/7/2015