No dia 11 de fevereiro comemora-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar a presença das mulheres na pesquisa e na inovação.


A busca por uma sociedade cada vez mais justa e igualitária passa, obrigatoriamente, pela oportunidade de grupos historicamente excluídos   ocuparem espaços. Durante séculos, as mulheres foram impedidas, por exemplo, de participar da ciência e da academia. Por muito tempo, o mundo foi delineado por homens e para homens. Foi graças a muita luta, competência e ousadia que estamos conseguindo mudar esse cenário.


Hoje mulheres já são maioria nas universidades. Na Universidade de Brasília (UnB), somos maioria no mestrado (52%), no doutorado (53%) e nos programas de iniciação científica (62%). Na graduação, somos iguais em quantidade (50%).


Nos grupos de pesquisa certificados da Universidade, 336 têm mulheres como líderes (47,86%). Nos projetos aprovados pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de Combate à Covid-19 (Copei), 113 (50,6%) têm mulheres como proponentes. Na docência, somos 45,44%. Temos também projetos de extensão de sucesso voltados para estimular meninas a ingressar nos nossos cursos de ciências exatas.


A gestão da UnB também está cada vez mais equânime. Em cargos de chefia, direção e assessoramento, somos 46,6%. Atualmente, dos oito decanatos, quatro são chefiados por mulheres.


Os avanços merecem, sim, celebração, mas não são a linha de chegada. Ainda há muito a ser feito. Em muitos cursos de ciências exatas da UnB, por exemplo, mulheres representam menos de 26% dos estudantes. E, apesar de ocuparmos em peso os espaços de pesquisa, somos menos de 10% dos que atingem o topo da carreira científica. Dos 22 Pesquisadores 1A do CNPq da UnB, 31% (7) são mulheres e 15 homens. 


A pandemia de covid-19 aumentou ainda mais a distância entre homens e mulheres cientistas. Um estudo publicado na revista Nature Human Behavior dá a dimensão disso. Os dados, coletados no começo da pandemia, indicaram que as cientistas perderam 5% a mais do tempo dedicado à pesquisa, na comparação com homens cientistas. Se a pesquisadora tem filhos, o tempo ficou 22% menor.


Como instituição de ensino, pesquisa e extensão que possui como princípio o compromisso social, são muitas as ações para que a Universidade seja um ambiente que acolha e respeite as mulheres, suas histórias e necessidades. Vindo de uma das áreas em que somos minoria e em que ainda há muito preconceito contra as mulheres, a geologia, e como primeira mulher a assumir o cargo de reitora na UnB, assumi a reitoria com a convicção de que deveria trabalhar para ajudar a mudar essa realidade.


Em 2020, a Câmara de Pesquisa e Pós-Graduação criou o trancamento-geral para estudantes de pós-graduação em licença-maternidade e permitiu aumentar o prazo de permanência dessas estudantes em 6 meses. Também ampliou em 12 meses o prazo de credenciamento de docentes em licença-maternidade e o período de comprovação de atividades acadêmicas para credenciamento e recredenciamento dessas docentes.


Em 2022, criamos 45 novas vagas para o recebimento do auxílio-creche, modalidade de auxílio criada na nossa gestão. Acabamos com a proibição de que estudantes gestantes continuassem morando na Casa do Estudante Universitário (CEU) e instalamos 28 fraldários distribuídos entre os quatro campi da UnB. 


Os desafios são imensos. Com muita luta, vamos delinear um futuro mais justo e democrático, assim como um hoje também mais igualitário. Estamos juntas na busca por cada vez mais voz e espaço. Futuro é agora.


Que a cada ano possamos celebrar dados cada vez melhores no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

 

Márcia Abrahão

Reitora